EM BUSCA DAS PALAVRAS PERDIDAS 01

“A diáspora da linguagem”

Vêm de muito longe as palavras, de há muito nascidas

Na permanente fala dos seres humanos distinguidos –

Saga do homo sapiens, em seus diálogos consentidos,

Na convivência co´ as coisas e co´ as suas próprias vidas.

As palavras vieram transmutar o uso dos sinais,

Recriando por elas mesmas a ingénua linguagem

Que vive no seu dentro em forma d´ ideia e de mensagem

Fazendo aproximar cada ser, por si, aos seus iguais.

Nesta diáspora interminável até aos dias de hoje

As palavras geraram a arte do pensar e do agir

E criaram, na sua identidade, um jeito de fruir

O seu progresso, pela emergência do tempo que foge.

Longa odisseia se instalou, pela conquista da terra

Esquecendo o ser de si pela vil ganância do poder

Aquele poder qu´ a própria palavra fez acontecer

Nascendo daqui a confrontação entre a paz e a guerra.

Neste estranho labor – que entre os seres humanos se gerou

E para o qual também toda a palavra contribuiu –

Surge agora o trabalho pertinente, que daqui saiu,

Repondo a harmonia que o triste caos determinou…

Ai das palavras que da mente saíram para o caos,

Ai das palavras que da boca correram para o vento

Fazendo eclodir entre os homens a dor e o sofrimento?

Quem pegará no fiel do logos pra justiçar os maus?

Andam palavras perdidas por um deserto sem fim,

Andam palavras perdidas na procura de um abrigo,

Andam palavras perdidas na busca de um lar amigo…

Quem ousará ir procurá-las neste combate ruim?

Na Era antiga da distinta helenística cultura

Foram os dignos combatentes d´ elites e profetas,

E doutro modo os nobres filósofos e egrégios poetas

Que deram às palavras a roupagem e a desenvoltura.

Todavia, haverá profetas e filósofos e poetas?

Que dirão as palavras que andarilham de ceca em meca?

Andam perdidas, sim, buscando alguém que proclame “eureca”

No tempo certo de ganharem emoção e alma rectas…

Não há profetas, nem filósofos com alma de linhagem,

Restam pois os poetas – aqueles poetas apaixonados –

Cujo labor, trabalho e acção os tornem determinados

A darem às palavras a verdadeira linguagem.

As palavras não têm asas mas voam por toda a parte

E até Diógenes, em seu esconderijo, as encontrou

Mas, à luz da lanterna em pleno dia, ele esconjurou

Que não vira um só homem capaz d´ as escrever com arte…

E tu, poeta, que ostentas, nesta saga, a tua lira

E tens perto de ti as palavras para teus poemas…

Chama até ti aquelas musas que te ajudem, e não temas

Que algum cansaço surja em tua paixão e interfira!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 16/08/2018
Reeditado em 28/10/2020
Código do texto: T6421058
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