Divã poético

Odeio termos científicos, por mais que sejam racionais.

Prefiro dançar no papel, usando um dicionário, escrevendo coisas banais.

São mais belas e poéticas, não com tonalidades brancas ou pretas.

Nunca enamorei números, porém me deslumbro com as letras.

Ah poesia! Se pudestes manifestar-tes corporalmente a mim.

Vislumbraria tuas sinuosas curvas, descreveria-as do princípio ao fim.

Seus glaucos olhos, o cabelo revolto ao vento

Razão pela qual mataria Chronos, para parar o tempo.

Viver eternamente extasiado, como um amante apaixonado.

Sem necessário permuta, tão menos pudor.

Assim estaria consumado, tu me pertences, o autor.

És minha, minha visão antológica do mundo surreal.

Afinal todo vazio existente, se preenche com o mundo ficcional.

Seria eu insano, opróbio da sociedade?

Diria sim, pois desconstruo sua "verdade".

Rá, rá, gargalho eu por suas existencialidades vazias.

Por sua moralidade hipócrita, auto-favorecida.

Grato sou pelas tempestades ao derredor, chatas me são as calmarias.

Elas me sugaram o talento, a arte quase foi esquecida.

Porém volto a produzir com requinte, gerando entusiasmo.

As palavras antes perdidas, brotam de mim estou pasmo.

Sou poeta porque sim, isso é um complemento de mim.

Não posso viver sem rimar, é como para muitos o respirar.

A cada verso escrito, tão singelo, tão bonito

Sinto em mim uma paz, nada me é tão eficaz.

Contra a poesia meus fantasmas se aplacam.

Logo com violência os poemas os atacam.

Estou no precipício da insanidade.

A literatura tem me segurado.

Me traíram as amizades.

De demônio fui taxado.

Quase me perdi, agradeço-te por me ouvir.

Sei que estás é bem aqui

E que nunca irás partir.