O SABER DO SILÊNCIO
«Ao professor Paulo Borges»
Há estranho horizonte imenso
Entre o que é e o que não é,
Em qualquer coisa que penso
Porque me fala, é porque é.
Eu sinto, laboro e existo,
À volta de mim há um vazio,
Quanto mais olho, mais insisto,
Na água que sou de algum rio.
Venho de origem distante
E procuro a minha foz
Sinto, porém, a cada instante
Dentro de mim uma voz.
Colina acima, colina abaixo,
Pedra aqui, pedra acolá,
Mais m´ encontro, porque acho
Que oiço cantar um sabiá.
Não sei o que há fora de mim
E até em mim às vezes não sei,
Há apenas cor de carmesim
Neste silêncio qu´ é de lei.
Natura e contra-natura
É uma alma que tudo tem
Há um devir de criatura
Que d´ algum lado me vem.
Não sei se é ou não ciência
Só sei que m´ é admirável,
É um saber de consciência
Que se torna identificável.
O tempo cresce comigo
Não sei se chega ou se sobra
Sei apenas que consigo
Ir criando a minha obra.
Na vida eu vou de viagem
Em longa ou curta distância
Levo comigo a roupagem
De um saber de ignorância.
Eu sou aquilo que sou,
Às vezes mistério medonho,
Mas, no espaço em que estou,
Mora também o meu sonho!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA