Homem de poucas palavras
Levanta-te, ó homem de poucas palavras
Rompe com os rumores de que só quem fala tem o direito de dizer
Quanto tempo serás julgado por sentir calado em seu próprio cais?
Embora despeje em sua jornada mudez e repouso o seu ser é existente
Somente aquele cuja veste de julgamento for rompido é que ouvirás o som da tua fala
Aquele entenderás que o teu silêncio não é devido a entoação de patologias e indiferenças
Só é a tua alma que voa
Tu que cura a sua própria loucura e dá sentido a sua linguagem
Nada gira em torno da enfermidade
O teu silêncio é quem observa os montes verdejantes da primavera
O teu amor não é dito e reescrito por poucas palavras
Ó amante, tu amas quando toca os lábios e sente a pele
Tu amas quando se coloca a dispor do outro com a sensibilidade de um monge
Tu enxergaste amor nas frutas, nos animais, nas crianças e nas rugas
Mas aqueles que de longe abstenham-se da sua língua
Nunca compreenderam como és o teu amor
Só o amado é quem vive, as palavras estão mortas.
Tu sabes, ó homem de poucas palavras, porque teu espelho não reflete aos outros?
Porque o teu mistério é atormentador e o teu silêncio indecifrável
Poucos sabem que uma rocha exala poesia
Poucos sabem que uma rocha tem seu valor
Dentro deste mundo há outro mundo aquém das palavras
Dentro do silêncio há a purificação dos sentidos
Ó homem silencioso, até as máquinas falam
E você nessa sua quietude exala a pureza dos sentidos
Já que tenham milhões de vozes a seu redor, tu vieste escolher o que mais te conforta
A mudez de uma rosa que fenece num campo de vozes.