Fascínio ou obstinação
Fascínio ou obstinação
queria algo mais
do que amassar o pão
mais do que ser a filha do patrão
às vezes, soltava as rédeas do cavalo
e em disparada parava nos arames
pensando em ir mais longe
de jeans surrados e sandálias gastas
era uma figura misógina entre as colegas
queria passar despercebida
gostava do campo, de suas lonjuras
mas algo me oprimia
talvez um pranto guardado ou uma cisma
sentia que meu destino era secundário
talvez um marido e filhos
talvez a solidão do celibato
sonhava com a liberdade
e, alheia a qualquer vontade
do campo fui embora
trazendo prá cidade um legado
ser intrépida e faceira
e assim os versos se derramam.
(enquanto olho a chuva na janela
desejo que no sul a seca se desfaça
e que o verdor retorne à campanha.)