Formiguinha

Formiguinha

Poesia é esperança

Lançada livremente

É verossimilhança

O que a alma sente.

É sim uma catarse

Um urro desesperado

Que não tem disfarce

Um anjo não alado.

Ficar calado?

Ou soltar por aí?

No coração acanhado

Guardar para si?

Sei bem, bem sei

Viver é só escolher

Labirintos já trilhei

Querendo me exercer.

Caminhos cá e acolá

Tantos que nem contei

Deixei uma pista lá

E um dia voltei.

Todo contemplativo

Na laje do formigueiro

Fui ingênuo e passivo

Fui um baderneiro.

O rebiluço ali, contudo

Não mais de mim depende

A desordem e eu mudo

Quem cala consente.

Tem certos detalhes

Que sempre se repetem

Forjando doídos entalhes

Na face dos que refletem.

Que mentem não ser

A própria incompletude

E que fingem poder ver

Bastando viver amiúde.

Olhai a formiga

Que carrega lá

Diga-a: prossiga

Traga a carga a cá.

E nesse macabro tom

Eu bem que me rebelo

Ainda há algo bom

No alarme eu relo.

E meu formigueiro treme

Milhares de vozes ecoam

Líder por líder geme

E formiguinhas voam.

A fortaleza está destruída

Aquilo que era seguro

Outra precisa ser erguida

Um desejo lindo, puro.

Coletivo sim, mas individual

Por ninguém senão por si

E ao todo também, por igual

Funda-se um novo formigueiro aqui.