Trevo de quatro folhas

Plantei minha alma num vaso de escuridão,

regando as dores mais inquietantes do meu silêncio.

Sofri calado por vidas karmicas inteiras,

a solidão roubou-me tudo, até a tristeza.

Regava meus lamentos três ou quatro vezes por semana,

num esquema de água fresca na nuca quando o mundo parecia querer cair,

sol quente nas costas quando não sabia aonde ir

e muita conversa ao pé dos ouvidos dos meus trevos da sorte

sempre que eles estavam tristes.

Plantei minha sorte em um vaso raso de terra preta muito fértil

e de brotos dores muito prósperos.

Sequei, chorei, quase parti, mas não morri de inanição.

Reergui-me e, resiliente, hoje floresço trevo de quatro folhas.