ETERNO RETORNO

Porque havia alguns que lutaram para atravessar a América

os que buscavam meditar nos jardins de Shangri-lá

ou procuravam tesouros num pote além do arco íris

eram os que viviam sob o signo da mística Rosa

ajoelhavam-se aos pés dos Grandes Antigos

e subiam as montanhas para adorar a entrada do Olimpo

para escândalo dos estoicos

não se contentavam com nada além da perfeição

não suportavam a ilusão quebrada ou o sangue em êxtase

desenhavam o Universo como criatura

mas as tempestades do dia a dia açoitavam-lhes a paz

e suas filosofias foram caindo aos pés dos montes

banhadas por mil lágrimas de noites desesperadas

pois para eles venderam um candidato herói da Pátria

mas beijaram seu príncipe e virou sapo

então os planetas confluíram e se alinharam à frente

vestiram-se de sedas e brocados de todas as cores

esperaram a visita das hostes do distante infinito

nada porém aconteceu

e em revolta invadiram os campos destruindo o trigo

queimaram os bosques em oferendas aos deuses

embebedaram-se do vinho e depredaram as sacerdotisas

violaram as virgens aos pés dos comunistas

e renegaram a direção da Estrela Polar

e viram o Cruzeiro do Sul nas cabeças das cobras

tremei Cuzco!

fugi Cairo! cobri as pinturas dos homens das cavernas!

tudo o que é transcendental deve cair por terra

abandonai o tarô e os búzios

e as lendas passaram a ser histórias de terror

(slenderman é coisa de pobre)

assim os homens passaram a endeusar a razão

e os cientistas e filósofos se tornaram qual reis

e os homens comuns passaram a não entender o mundo

virando piratas subversivos pelas redes sociais

e levantaram-se guerreiros que cultuavam a Arte

louvando nas catedrais dos sonhos de Salvador Dali

em louvor de Eliade e combatendo Dawkins

e houve guerra e espada partida manchada de sangue

filhos e pais em extermínio sem olhar nos olhos

repetindo o conhecimento ancestral do Eterno Retorno

porque o mundo é um ciclo

e tudo que se faz um dia retorna para a humanidade

como uma serpente em chamas que atravessa o infinito