PEREGRINO
definitivamente não sou um homem público
publico apenas para não me tornar ausente
em mim e nas minhas histórias sem fim
sou um sentimento que às vezes não sente
outras vezes sinto mais do que a dor persente
adormeço sem ver a musa do meu jardim
gente passa por entre várias lembranças
outros sacodem apenas a poeira dormente
acho-me indiferente quando os vejo acenar
apenas corpos que balançam sem ser gente
sorrisos forçados que não me deixam contente
apenas forjados no brilho do meu olhar
o torpor cega-me na vontade de os deixar
carrego-os na minha albarda de madeira
como destroços ausentes do meu presente
talvez o balançar do meu burro os aguente
sinto o sol a morder-me a cabeça rala
firmo no cajado o peso dos meus ossos
deixo a minha tristeza brindar ao acaso
sou peregrino conformado em solo raso
moro nesse corpo que geme e fala