A DIGITAL POÉTICA

A mão do poeta

às vezes colhe a fruta acima,

aquela que está a um palmo

do seu braço estendido,

a vermelha

que amanhã sumiria da árvore

pela força da dissipação.

A mão do poeta

às vezes recolhe a fruta instável

aquela sobre nossas cabeças.

Ele toca os dedos,

marca suas digitais,

na casca aparente,

e exibe o fruto.

Ninguém o conheceria

não fossem os dedos do poeta,

na sua busca

pela revelação do sabor,

do puro magnífico.

É a mão do poeta ainda

a mesma mão

de quem segura a corda no abismo,

o galho fixo

quando passa a enchente

e essa mão atira a pedra,

muito longe, afora;

para o outro extremo,

cada vez mais afastado,

até surgir os cabelos

da ninfa da lagoa.

É a mão do poeta:

a canhota,

(ela não se finge morta

para ser aferida),

ou a direita,

que exibe o notável,

prossegue a colheita

e compreende

porque as margens das unhas

se mantém limpas,

mesmo após o seu uso espesso.

DO LIVRO:"ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 02/12/2017
Reeditado em 04/08/2020
Código do texto: T6187834
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