GOGONTE
Hoje criei-te, "gogonte"!
A partir de agora estás vivo.
Existes para dar vida a esse reino;
Das criaturas que não se encaixam em nada.
E que vagueiam pelo mundo sem expressão.
Apenas podes ser chamado de "gogonte".
Contenta-te com isso, ao seres diferente de tudo.
Uma espécie sem expressão nem lembranças.
Imaginariamente criado a partir do nada.
Disforme e alheio das coisas puras e belas.
Quase uma sombra, sem corpo nem forma.
Mas alegra-te, "gogonte"! Não desanimes!
Os que não te vêm, são ainda piores do que tu...
Não conseguem ver-te porque estão cegos.
Cegos por uma cegueira que os toma...
Parecem felizes, mas não passam de soldados.
Soldados mandados para a guerra.
Operários sem dó nem consciência.
São ainda mais "gogontes" do que tu,
Por teimarem na obediência sem sonhar...
Apenas escravos das nuvens de fumaça.
Por isso, deixa-te por aí andar, meu "gogonte"!
Arrasta-te pacatamente e conforma-te!
A tua vida nasceu para ser leve e curta.
Estás livre de impropérios e maldições.
Só tens de caminhar, no teu rumo sem direção,
Para viveres adormecido na minha imaginação...