SEPULTAMENTO

O ar está quente e rarefeito

Não ouço mais o teu canto

Escureceu dentro do meu leito

Sinto náuseas sem ter pranto

As larvas preparam-se para viver

No meu corpo frio pálido e direito

Querem mutilar-me por dentro

Achar carne dentro do meu peito

A sepultura é a minha última morada

Talhada em pedra sobre o meu feito

Ossos duros seguram-me ao corpo da terra

Imagens imundas lembram-me a guerra

O melhor será morrer já para esquecer

Adormecer sem tarde para não sofrer

Aproveitar essa casa como um abrigo

E dar graças por não ter aqui um amigo

Oferecer-me à importância dessa cova

Que me concede o direito de não ser

Como um parasita inconsciente e mudo

Que não precisa mais de usar as manhas

Despeço-me do mundo sem clemência

Para habitar finalmente nas entranhas

Não quero ser mais cruz nem penitência

Somente preambular sem o meu escudo

Apenas ausência e amor por tudo

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 10/05/2017
Reeditado em 14/05/2017
Código do texto: T5995234
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