Epifania Carbônica
Não deito e levanto imune
a tanta água, e suor, e guerra
olvidados numa hipnose
de sons, teclas, vozes, impune,
semeando sobre a Terra
peste, lixo, fogo, virose,
secular narcisista rei
de feras, e lobos, e impérios
doutrina, insano, com sua lei,
sádicos, sedentos, sérios
caçadores de esgotos
a polir com perdigotos
a última janela mental
tão pura, em si, vegetal
putrefato e cruel
dá-lhe tinta e papel
e uma dose de vinho
enebriante e fugaz
sem direito a caminho
de volta, soldado e algoz,
idéia fixa é seu nome
jamais alcançará pronome
em devaneios, de vez
em quando, e sempre e nunca
sentirás o gosto e altivez
da arte, saborosa e cênica
da energia tão doce
que recebo como se fosse
o delírio da brisa atômica
em pilereção mnêmica
de um dia de Sol e cheiros
e luzes, e sabores inteiros...