Jardins suspensos
Ah, se não sei de onde sou
de onde venho, aonde vou,
enigmática voz ao torpor
da infinitude do vento
encaminha-me, desatento,
a uma nuvem de cor
fumegando versos de paz
numa insana viagem fugaz
descarrilhando uma tonelada
de vez, e voz, e vontades
falhas no ato ceruleos do nada
em tudo esvaecendo
do mar de estrelas e cidades
chamas do medo castrado,
fóbico, misógino e nulo
feito buraco negro
ante arteiro mundo casulo
de apego e desapego,
assim, bipolar e cego
às castas hierárquicas,
janelas de luzes estóicas...
E, quem dera os vultos
malignos de reis astutos,
sinestésicos, pairassem
à beira do rio de cores
seus últimos amores,
digo-lhes... o eterno amém
brotaria em jardim daninho
agora e no ninho
etéreo dos campos, amém!
Assim findo, Babilônia,
o último estalar submisso
da tua última colônia
e subo em teu jardim suspenso...
(Niedson Medeiros)