Estudos sobre a morte e a vida
Estudos sobre a morte e a vida.
Uma conversa com Deividi Chuffi Chaves <3
[morte]
- Tenho perguntas entaladas na garganta e dúvidas coçando a ponta dos dedos
Por que vives em eterno sofrimento se sua presença é a fonte de toda existência?
Enche-me de dúvidas lhe encontrar entre os becos estreitos do universo e ver
Ver que apesar de ser o aniversariante, não aproveitas a festa.
Por que vives assim, como se o dom da criação nada significasse?
[vida]
- Por que vivo? Vivo porque encarno a vida.
Além disso, sendo eu o próprio sangue, corpo e espírito, jamais poderia fenecer.
Mas desfrute? Eu não tenho em viver.
Para os que passam por mim, tudo é fugaz, piscar de asas
Para mim, que vejo a todos passar,
O tempo é um gás que nunca mata.
- Mas quem seria o culpado de suas tediosas emoções de viver além de ti?
Como o apanhador no campo de centeio, colho os frutos de teu sopro de vida
mas ainda que amaldiçoado, entendo que o medo seja maior que a capacidade de entender.
Ó vida, quem seria eu sem os devaneios entristecidos de sua existência?
Quem seria você sem o temor constante da minha indesejada chegada?
- Tu, morte, filosofa sobre tudo.
Para ti é fácil, existe em eterno luto
Eu, em contraste, vivo em movimento constante
Surgindo nos ventres, me esvaindo nas camas
Correndo em raízes, até em escamas
Me canso na ida e na volta
E só me sento por breves momentos
Quando enfim, você se levanta
- Perdoe minha filosofia em metamorfose, mas o silêncio abre espaço para os pensamentos
Aqui, nesta imensidão escura de átomos e fendas, as perguntas surgem como faíscas de vida
Aqui, neste universo solitário de memórias e lutos, torno-me um poeta melancólico e curioso
Pego-me observando seus longos dedos moldando tudo que há no mundo
Todas as esferas entre o bem e o mal, todos os pequenos detalhes e encaixes
Como pode haver tédio e infelicidade onde tudo flui e tudo acontece?
- Se tudo flui e acontece sempre
Imagine, pois, o tédio perene...
Só o repentino nos dispara
Os seres sorriem nas raras
vezes em que ambas, morte e vida
parecem cometer enganos
Eles não sabem que
Além de nós, há quem administre o acaso
E esse, tal como nós, também se encontra entediado
Há muitos e muitos anos
Ah, morte... É inútil nos invejarmos
Somos aspectos já sem servos
Eu chama, tu espectro
Dinossauros não extintos
- Te digo, vida, encerrando nossa conversa perenal, que nada somos além de espaços de tempo
Espaços de medo e esperanças
E em nossa carne indivisível habitam os sonhos da humanidade e os segredos do mundo
Somos os deuses da Velha Era e do Novo Mundo
E mesmo que minha presença te domine, tu sempre encaixa um jeito, descobre uma fenda
Vá agora e descanse em berços flutuantes
Me deixe admirar o nó da civilização enquanto caminhamos para o distante futuro.
Ainda me restam numerosas perguntas, mas não sou capaz de me satisfazer com nenhuma resposta.