O SONO E O ESPÍRITO MANIFESTO

Um sono brutal e entorpetence

Desce seu manto de chumbo

Sobre meu corpo cansado.

Sinto um sono que me cobre

Todas as células e o espírito

Em alguma forma estranha

De química torpe correndo

No meu sangue até o cérebro.

Surge na dimensão

Dos meus pensamentos

Tudo quanto é

Humanamente relacionado

Ao afogamento no nada,

Ao esquecimento de tudo

E ao intervalo que a vida pede

Entre um caos e outro

Que seguem contínuos

De mãos dadas

Com quem se cansa -

E descansa -

Da existência.

O Universo é uma dança infinita

Que se projeta além dos limites

Das nossas percepções.

Há um muro que se estende

Há eternidade de incontáveis anos luz

Tapando nossa visão

Do que mais é real pra cima

(Se é que é pra cima!)

E nós, partículas subatomicas

Ou menos que isso

Não percebemos nada além

Do que se presume achar,

Crer, criar, imaginar, perceber...

Não sabemos nada quanto é real.

O Universo é uma dança infinita

Por que nesse momento

Meu Universo dança ao som

Da melodia da inspiração

Que faz minhas emoções

E pensamentos bailarem

Em uma sinfonia celestial.

Inspiração que tenta caber,

Sintonizar comigo,

Mas que é tão maior que eu

E não possui a gravidade limitante

Das grades onde posso me expressar.

Somos dimensões e percepções delas

Projetamos e somos projetados

Pensamos e ficamos tristes ou cansados.

Agora o Universo é dança;

Pra quem sonha ele é um sonho;

Pra quem só crê em dogmas

O Universo se fecha em dogmas.

Pra quem canta, ele canta;

Pra quem cresce, ele expande;

Pra quem planta flores

Todo o Universo floresce...

Mas tudo isso talvez seja ilusão.

Esse assombroso espelho

Joga tudo de volta na mesma intensidade.

Percebemos nossas realidades humanas

Talvez em coletivo, ou não.

Eu consigo imaginar como

Universos singulares e paralelos

Experimentando a existência

Nesse lugar estranho

Onde a vida se dá.

E da grande Dança

Nada percebemos senão

As partículas do ar que se movem

Ao redor do dançarino oculto

Enquanto ele dança eternamente

Invisível ao nosso nível de percepção.

Creio que nada vemos

Além do que imaginamos

Dentro de nós.

Não somos dignos de contemplar

A grande Dança,

Ou talvez o dançarino sabe

Que não temos estômago

Para digerir coisa alguma real

No embaralhar de dimensões

Também infinitas

As quais nos encontramos.

Assim vamos viajando

Devaneando, navegando

Nos oceanos sem fim

De nossas próprias ilusões

Da qual somos escravos,

Escravos de nós mesmos.

O Universo é uma dança

Não vemos quem dança,

As vezes escutamos

Alguns acordes da música

Que logo se perdem

Na nossa visão turva e vertiginosa.

E o dançarino? Dança sozinho?

Gosto de imaginar que não.

Tudo é um giro eterno

Dentro de giros

E mais giros

Nas órbitas de coisas colossais

E tudo dança no espaço

Além do que podemos conceber.

Como sou pequeno,

Porque essas coisas confusas

Me possuem sem minha vontade?

Vou dormir.