MARGENS

Sou montanha e abismo, alço vôos, caio,
Mas desço desabalado dos morros, em eixo desordenado,
Piso diariamente no meu chão das abcissas,
E caminho tranqüilo, pelas manhãs, às margens do Paraopeba.
A cada dia é um novo rio que está lá,
Imutavelmente novo a cada instante,
No ancestral leito de agonia
Que limita, determina, contém, retém, mas paradoxalmente deixa fluir,
Enquanto, à orla, o mundo que caminha rio acima
Arranca raízes, planta edifícios, apaga o verde, derrama cinzas,
Envelhece.
É onde habita meu ser, pois vivo à margem,
Vivo a margem, sou a própria margem.
Miro o espelho horizontal que desliza calmo rio abaixo
E nele olho minha face que treme dançando desequilibrada.
Vejo que ele leva embora parte da minha essência
Deixando um resto de imagem a bailar nas ondas, ancorada em mim.
É o tempo, que enfeita de rugas a face da minha alma,
Assoviando ventos que tudo esgarçam
E dizendo que as águas são eternas,
Mas as margens passam...


Foto: Rio Paraopeba - Brumadinho/Mg. Disponível na internet em: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.tratosculturais.com.br/qf/UniVlerCidades/Cidades/Brumadinho. Acessada em 01/07/2007.