CLARÃO NOTURNO
Escrevo poemas com vaga-lumes,
pego-os em pleno ar, com a licença deles, é claro;
nunca ouvi nenhum, da parte deles, queixume,
dão o que guardam às noites, clarões raros...
Escrevo no céu poemas aos vivos e aos mortos,
rabisco em nuvem versos livres e retos e tortos;
são como flutuações filosóficas em neon brilhante,
convergem para o celeste azul no mesmo instante...
Dizem que veem, em noites escuras e tempestuosas,
romper como raios frases inteiras, descabeladas,
desenham suas danças no céu de alma furiosa,
caem como chuvisco de luzes em frias madrugadas...
Eu cá, num turbilhão de sensações luminosas,
já recebo pedidos de vaga-lumes distantes,
querem escrever seus versos em manhãs rosas,
mandar mensagens amorosas à mundos distantes...
De luz e escuro vivo neste mundo a escrever,
de posse da luz alheia que me é dada,
sei o que dizem, de dizer nem sei que sei,
sou o que serve, humilde, à cada palavra...