por cá me escondo

tem dias que sou, no vento,

fiapo à deriva

às vezes sou grão de nevasca,

engatada num caule,

gelada lasca

a translúcida gema

d'um Olmo ou Carvalho

pra mais tarde ser

o verde talhe de um veleiro

ou a sombra...

d' um frondoso galho

tem dias que sou

aqueles pesados passos que remam dunas

vou levantando areia

de um planalto desértico,

com um cajado n'alma

tendo o semblante quase profético...

vou-me aplumando por dentro da poeira

formatando meu vulto

- este ser meio sepulto;

com saudade e pele a mostras

pra não perder o movimento

vou-me equilibrando

no tempo

pra não cair no esquecimento

assim ziguezagueio

meus dias

... que d'outra maneira

palavras me teriam.............

se eu não fosse esse andarilho

com um velho bornal

querendo encontrar

aquela ave-poesia ...?

aquele pássaro

que em mim não pousa

e que por isso sempre tento

rabiscar numa lousa

um nicho recheado de fantasias

que o atraia

como se fosse preenchido

com as mais requintadas

iguarias.............................................

MarySSantos
Enviado por MarySSantos em 01/12/2016
Código do texto: T5840818
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