PEDRA, AREIA E TESTOSTERONA

A cidade cresceu,

O prepúcio ainda é enorme.

Daqui enxergo a fimose do trânsito.

A cidade estirou-se,

músculo da perna.

e expôs suas marcas,

suor nas reentrâncias das pontes,

cheiro de ranço no fim da tarde.

A cidade alastrou-se,

câncer de próstata,

inacessível,

o exame nem soube que a uretra,

era um túnel metroviário.

Ah, outrora havia volumes e maciez de jardins,

rosas desabrochavam,

ruas estreitavam-se,

beijava as bocas de lobo, dos bêbados.

Um dia certa garça pousou no lodaçal

era a cidade que se masculinizava,

medrava,

tornara-se venta de homem.

A cidade espalhou-se,

(os machos são muito espaçosos)

carrega sua poluição de dia,

e ejacula enorme polução à noite,

fumaça solta através dos obeliscos.

A cidade não é mais uma cidade,

é tumulto, sítio urbano,

ajuntamento de pelos grosseiros, não obstante

viris,

encravados em um tórax municipal.

É difícil encontrar

no centro de São Paulo,

um muro com a gravura

de um coração de mãe flechado.

.

DO LIVRO: A CIDADE POSSÍVEL

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 16/09/2016
Reeditado em 13/08/2020
Código do texto: T5762373
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