LÁGRIMAS DE SANGUE
O poeta perguntava ao sangue
a causa da coagulação;
arrepios fincavam-se ao corpo exangue
enquanto os glóbulos sobreviviam
por um estande, às lágrimas-de-sangue
milimetricamente longe do coração.
Suas artéricas idéias
esvaiam etéricas
daquela funda cratera
onde encontravam-se as feridas
e os palavrões omitidos na terra
aos gemidos de almas temidas.
Mas agora, como um monge,
o poeta deixa que o tempo
casque e descasque as feridas,
descreve o vermelho do langue
e enxuga as lágrimas de sangue
no encarnar e desencarnar de vidas.
Sivaldo Souza "