EPIFANIA
Pela janela do meu quarto, contemplo as estrelas
sem me dar conta de que é nublado,
céu plúmbeo de um inverno rigoroso
Essa, quem sabe, seja a janela da alma,
do ser transmutado em luminescências e transparências
Permeando de lacunas nossas certezas mais latentes...
Que responderei a essa voz que diz: desvie o olhar
e fale num sussurro
cerra os olhos ao além e sinta-se seguro
sob refrescante sombra, pois, intransponível é esta muralha?
Não, ergo meu brado,urro animalesco, fazendo tremer os montes
Prefiro mil vezes ornar-me com a terrível mortalha
a aprisionar este condor afeito a desbravar os horizontes
Meu pensamento já alçou voo, me acomodarei jamais
Prefiro caminhar errante pelos umbrais
cantando a derradeira elegia
e, como tem sido, descobrir a inefável alegria
na dádiva eterna de uma epifania!
Já não quero certezas – essa espada cruel a nos deixar impotentes –
Mil vezes as perguntas sem respostas, as dúvidas,
a fugacidade das juras
O prazer da aventura desta estrada que é de ida somente!
céu estrelado de um inverno rigoroso, meu rosto salpicado de suor
Faço-me um com o Universo, bebo, sôfrego, a poesia vertente
Abro os olhos, fecho a janela... no céu brilhou uma estrela cadente!