ODE AOS DEUSES, OPUS Nº1: PERFEIÇÃO.
Ato Primeiro.
I
Todos os pensamentos passaram por mim e eu continuo aqui; o ninguém eterno.
Esfacelando castelos frente o hospício dos ímpios humanos; infelizes.
As mandrágoras de pedra do narciso sufocaram Florbela.
Que amor? Que beleza? Que verdade? O que quereis pigmeus?
Morreu desnutrida, amargurada; esquecida.
II
Vejam as rachaduras do espelho samaritano; ridículas.
Espalhando os cacos do édipo autossuficiente falacioso.
Pequenas criaturas malcriadas; crianças…
III
Os homens que briguem com sua natureza!
Buscaram-me mas não quiseram-me; a meia vontade e a meia preguiça.
Vaidade alguma poderia ser maior, do que a assinatura prematura de um artista incompleto.
IV
Mas recomecem as obras da epopeia do vazio!
Quero vos ouvir homens astutos - incapazes.
Sussurrai vossos insultos que eu vos perdoarei.
São música - fúnebre - aos meus ouvidos.
V
Uma orquestra infinita de loquazes argutos; quem diria!
Gordos demais para tocar, mas cantarolam todos os dias.
Quem iria querer perfeição maior que esta?
Ato Segundo
VI
O carrasco sarraceno, o gênio, o demônio; eu.
Honroso em vos ver, dedico-lhes uma moda.
Chamei-lha Sinfônica de Sísifo.
E ri-me sozinho.
VII
A grandeza do ser pequeno, arrancado do chão de pedra.
Alegria do energúmeno, a perícia do apedeuta.
Perfeição inimaginável aos olhos vitoriosos.
Quem dera não ter de subir a terrível montanha.
VIII
As vertigens dos honestos transcendem a rasura do testemunho.
Aqueles rabiscos, os gatafunhos, garranchos; arte.
Pérfidas novelas dos homens direitos, não sabem de nada!
Sabem sim, desculpo! Sabem bem fazer dormir.
IX
E dormem amarrados as pedras que lhes sabotam.
Temerosos para com o sentido, a forma; a métrica.
Nem sequer ousam mexer um palmo fora da risca.
Formigas formidáveis!
X
Assinalo agora, o momento ideal.
Anotarei as pausas e os compassos, para destruí-los!
Um mundo ordenado é um mundo de desordem!
A harmonia sabe a enxofre - Allegro di caos.
XI
Esmagaram as formigas.
Não havia mais porque seguir, mataram a rainha.
Quem iria pensar? Quem iria seguir?
Nada a declarar.
Ato Final
XII
Dentre todos os anencéfalos falantes
O ensandecido balbuciou - fez arte.
“Histéricas formigas porque vos mateis
Vejais que vexame, nunca houve ordem!”
XIII
A vida é um absurdo disse uma vez mais.
E se matou; feliz.
XIV
A harmônia hermética suspirou refazendo o sentido idôneo do viver.
Tudo seguiu - sem sentido - normal.
Ninguém nunca lembrara daquele saudoso profeta.
Despediu-se, uma vez mais, o velho Sísifo cotidiano.
XV
Dei fim a tenra opera para que ouvirdes o som dos deuses.
O silêncio, a ironia, a derrota!
A plateia é parte do teatro, e a melodia é por demais precisa.
Viver, simplesmente, viver. Deixai as marionetes dançar…
XVI
Jamais buscai-me grandes homens, e contudo me encontrareis!
É vosso esforço, pedra nos sapatos.
De todo grande, de todo belo, de todo espelho,
Por fim rir-me-ei; nas infindas fantasias do homem infantil.
Todo sonho será bruma, toda obra será cal.
Não terminarás nenhuma! Tua alma é incompleta!
XVII
Não há Rei sentado no trono, nem final para a Torre de Babel.
O Além-Homem não sou eu, pois eu me fiz; imperfeição.
Meu nome, mistério da vida. E vocês? Quem são?
Hernâni Arriscado - ODE AOS DEUSES, OPUS Nº1: PERFEIÇÃO.