Incógnito Ser

Eu amo tanto e choro na multidão sozinha;

eu grito, e só as vísceras do silêncio me ouve;

meu coração pulsa a vida, mas parece que todos estão mortos;

eu compreendo as dores das pessoas, mas ninguém se entende;

eu beijo quem não me ama, e Deus chora dentro de mim;

Eu não sou ninguém, porém o nosso ego atrapalha a tudo;

eu escuto a tristeza dos apaixonados e dos loucos,

eu brado a agonia silenciosa de todos os rejeitados pela religião, pela sociedade, pela política e pelo poder;

eu sou a sombra do santo e do pior pecador,

Eu sou lágrimas da verdade e do pesar,

eu sou a mãe que perdeu o seu sono e seu filhos;

eu sou a vontade de ser aceito e amado por quem é indiferente;

eu sou o quarto em que eu tiro todas as máscaras, e me sinto nu;

Eu sou a nudez que esconde os monstros de todos os que amam

Eu sou o terrível e cortinado medo de ser eu mesmo;

eu sou a volúpia da liberdade e da ébria libertinagem;

eu sou a verdade dogmática que esconde as mentiras dentro de si;

Eu sou a garota linda que ninguém enxerga a verdadeira alma;

Eu me finjo que sou inabalável, mas sou tão carente;

Eu beijo, vou às festas, faço o que quero, mas sou escrava

dos desejos e vontades que finjo não demonstrar.

Eu sou moderna, não ligo para meus pais,

todavia queria ser comum_ amar e ser amado como sou.

Eu sou o ambiente escuro em que todos os apaixonados

revelam suas carências, seus apetites, seus fetiches.

Sou a lembrança que quer esquecer o futuro,

sou a criança que não quer crescer nesse mundo de adultos.

Sou a saudade de si mesmo, sou o temor da morte,

sou a praia deserta onde todos os amores se afogam;

sou o que não sou porque finjo que não deveria ser,

Sou a prostituta, sou a devassa, a vadia sem coração,

Sou a castidade, a pureza, as discussões de meu ser;

Sou o desejo de um mundo sem mentiras e sem traição,

Sou o amor que ninguém ousou em transcender.

Sou os preconceitos de viver, de amar, de ser feliz.

E de tanto querer ser o que seria, nada enfim eu sou;

Quem é essa face que tu pensas ver perante o teu reflexo?

Somos meros fantoches que buscam um sentido, um nexo,

perante a nossa vida a qual jamais um significado real ressoou.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 15/04/2016
Reeditado em 16/04/2016
Código do texto: T5606349
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