LEPRA

Reparei naquele pobre africano

Que pedia esmola sentado no chão

Pele negra e manchas rosadas na mão

Roupas rasgadas e manchadas sem cor

Dor que me doeu na ossada do meu amor

Não tinha os lábios e o nariz para me olhar

Estendeu-me o braço ou um abraço para dar

Gelei por dentro senti-me só e agarrado

Àquele estado que não pude acompanhar

No olhar tresloucado percebi essa certeza

A lepra tinha encontrado mais uma presa

E preparava sorrateira o seu bote fatal

Ia contagiar-me por não dar uma esmola

Começou a movimentar-se na minha direção

Arrastava-se como serpente ferida e cega

Devagar lentamente rápido na minha mente

Senti nas pernas um torpor permanente

Um calafrio sem frio tomou conta de mim

Abandonei o meu corpo que agora padecia

Precisava do meu espírito que não sorria

Para ajudar as minhas pernas a correr

Morrer e sofrer como aquele homem

Deixou-me à beira da vida que morria

O meu querer configurou-se numa peça

Ao sentir que alguém me puxava seguro

Filho dá a mão ao pai e anda depressa

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 24/02/2016
Reeditado em 24/02/2016
Código do texto: T5554069
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