Justificativas
Não me é justo persuadir-me,
sou filho das conveniências,
por isso meus discursos procuram
justificar as escolhas que faço.
Depois que me pariram,
pari novamente a mim mesmo,
aprofundando raízes, curtindo medos.
Sou ao mesmo tempo, o pai e o filho do mundo,
aonde habito e moro e passo o tempo.
Se a onda me banha, banho a onda,
usando da reflexão que meu olhar me cede,
embriagando certas justificativas do viver,
alguns parâmetros que a razão me faz perder,
às vezes traindo a memória, o desejo, a vontade.
Enfim, o que desculpo me trai
e o que justifico me apequena.
Viver é muito mais do que cruzar um tempo
antes que a morte se rarefaça dentro da alma.