Esperança

Tu vens na passagem das horas.

Traz teu rosto do barro e dos céus.

Recebe-me com os olhos brilhando

ora de amor, ora de lágrimas

num tempo que me emudeceu.

A grandeza de tua efemeridade

é ser meu ninho e o teu papel

embora seja de verdade

tu o interpretas no meu rosto

quando o palco é todo teu.

No meu teatro da descrença

tu avanças, sem pedir licença,

e me ofereces tua fala que seduz.

Não abdico de crer-te uma vez mais.

De ainda ver no meu barro teus sinais

quando Deus fecha o pano e apaga a luz.