Arca

O entardecer vai tecendo pensamentos,

as palavras do poema interior,

como uma grande e solitária arca

que vai navegando pelo amor.

Amor pelos que se foram baixinho,

sem palavras, sem ruído, sem lamentos.

Amor dos que se foram na dor

sorrateiramente arrancados pelos ventos.

Amor por uma saudade insustentável

dos cânticos interiores dos silêncios,

Ah, o coração, esse mestre indomável

já nem reconhece mais os próprios sentimentos.

Vais, ó arca, aqui na alma a tua bússola

talvez seja esse anjo peregrino a me ensinar

o vôo que se orienta por estrelas

que chegará por mim antes que eu me vá.