Relicarium

De quem é a culpa, não importa mais

Importa que quem tem olhos, faz vista grossa

Quem tem voz, se cala

Quem tem braços, os cruza e recusa todos os abraços

Quem tem mãos, faz questão de atá-las

faz questão de recolhê-las e as enfiar no bolso enquanto anda

Quem tem pés, os põe pra cima como quem não quer nada

Quem é capaz de pensar, se fez ignorante

se fez de estúpido, direcionou a mente à idiotice

Quem tem alma, se priva de sentir

se priva de tocar a alma do outro

se priva de viver os jardins floridos da vida

porque disseram que isso é coisa de gente estranha

Quem ama, emudece a urgência e se fecha

manda o amor embora, como se ele fosse ruim

porque imbecis por aí dizem que ele é um monstro

E quem é paixão, vive de se esfriar com baldes de gelo

como se isso fosse bom

Quem é, diz que não é

Quem não é, diz que é

E tem os que nem sabem do que eu estou falando

Frieza não é a minha pátria

E eu me recuso a acreditar que deva ser

Me recuso à crer num mundo onde olhares emudecem

onde as iris não brilham

e olhos não conversam

Me recuso à crer na extinção das longas cartas de amor

Não aceito essa falta de "bom dia" no meio da rua

E tão pouco aceito o fato de as gentilezas

serem recebidas com torcidas de nariz

e caras de estranheza

"O mundo está ao contrário e ninguém reparou"

Ninguém noticiou

Ninguém reverteu a estranheza

Fizeram um relicário de tudo o que é certo

De quem é a culpa não importa mais

Importa quem vai sujar as mãos e braços

recolhendo destroços e distribuindo abraços

Importa quem vai se atrever à viver ao contrário

à olhar para tudo aquilo que faz os outros virarem as costas

Importa quem vai transmitir paixão com os olhos

Importa quem vai transbordar a alma e jorrar vida

Importa que o amor é um movimento

Importa que o amor tem vida própria

E que até quem não o quer, não consegue recusá-lo.

Débora Cervelatti Oliveira
Enviado por Débora Cervelatti Oliveira em 14/10/2015
Código do texto: T5414254
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