Profecia

Nasceu como bastardo, uma vez,
sob a barba servil dum carpinteiro.
E embora fosse um filho verdadeiro
o pai foi alijado da prenhez.

Seu velho pai amou o que não fez
e fez, do que amou, um grã segredo,
enquanto a mãe pariu muito mais cedo
o filho da mais pura honradez.

Cresceu como escravo dos senões
dos seus antepassados, entretanto
não derramou, que fosse, um só pranto,
na espada dos cruéis centuriões.

Seguiu, ouvindo salmos e sermões,
enquanto florescia a juventude.
E a história conta a torto e amiúde,
embora esconda parte das paixões.

Morreu acreditando na vitória,
enquanto estertorava em agonia.
E o sangue que verteu naquele dia
inda inunda as cavernas da memória.

E renasceu a mando de quem fez 
cumprir a mais antiga profecia.
E a jovem mãe e todas as Marias
morreram, uma a uma, outra vez.

Quem te viu em total embriaguês
é capaz de saber o que farias.
 
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 03/10/2015
Reeditado em 23/01/2021
Código do texto: T5403226
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.