Transcendeu-se
Queria transcender-se
e enlevar-se a um nível
em que pudesse abrir-se
em todas as formas, cores,
traços e possibilidades
Pois viver presa em si mesma
a sufocava tanto
que já estava cansada
de ser limitada por aquela cerca,
dentro e fora de seu corpo,
na vizinhança de suas linhas e contornos.
Decidida,
sem se importar com as feridas
que haveriam de surgir no embate
de tão forçosa e dolorosa lida,
resolveu abrir-se.
Foram uma, duas, três
contínuas e lentas tentativas.
Até que chegou no limite da beira
e atravessou suas fronteiras.
O arame das linhas
do seu corpo romperam-se
num misto de dor e prazer,
e ela, finalmente, transcendeu-se.
Ocorria ali a libertação do ser.
Como uma borboleta indefesa,
depois de tantos medos e incertezas,
abandonou o casulo
e foi saindo de si mesma.
Duma intensa dor à leveza,
desabrochou e floriu-se
voando para além daquela cerca.