Transcendeu-se

Queria transcender-se

e enlevar-se a um nível

em que pudesse abrir-se

em todas as formas, cores,

traços e possibilidades

Pois viver presa em si mesma

a sufocava tanto

que já estava cansada

de ser limitada por aquela cerca,

dentro e fora de seu corpo,

na vizinhança de suas linhas e contornos.

Decidida,

sem se importar com as feridas

que haveriam de surgir no embate

de tão forçosa e dolorosa lida,

resolveu abrir-se.

Foram uma, duas, três

contínuas e lentas tentativas.

Até que chegou no limite da beira

e atravessou suas fronteiras.

O arame das linhas

do seu corpo romperam-se

num misto de dor e prazer,

e ela, finalmente, transcendeu-se.

Ocorria ali a libertação do ser.

Como uma borboleta indefesa,

depois de tantos medos e incertezas,

abandonou o casulo

e foi saindo de si mesma.

Duma intensa dor à leveza,

desabrochou e floriu-se

voando para além daquela cerca.

Via Poética
Enviado por Via Poética em 16/09/2015
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