desordem

já viu o pé de uma árvore?

as pontas de suas raízes

penetram o interior do terreno

levantam o chão da calçada

a moça fica assustada

o velho fica cabreiro

o piso se trinca por nada

assim são os meus versos

que crescem toda a manhã

de forma desordenada

irregular e confusa

precisam ser aparados

ou mesmo sacrificados

em nome de coisa melhor

ou de menor profusão

pois crescem muito e à toa

e não há ninguém que se doa

ou escarneça ou delire

com o desespero que mostram

com o que dizem ou escondem

com a alusão ao meu nome

escrito na casca da árvore

mas logo esquecido na chuva

no sol e no beijo do vento...

nem sei se ainda me agüento

nem sei se ainda tolero

o meu enfeite austero

de madrepérola azul

Rio, 20/10/2006