REFLEXO IRREPTÍVEL
O cinzel corporal que esculpi a sombra
e talha a ilusão peregrina na planície.
Mascarada em asfalto, como melodia sobreposta
pelo pó inconsciente.
Move rebelde alheio a órbitas
no metafórico chão do tempo.
Ocupa o espaço do som, absorve
o silêncio que o vácuo fortuito imita
a ausência da alma.
Repete para se disfarçar completamente.
Mapeia em si mesmo o território clandestino
onde não há sol ou solidão.
O homem, na morada de seus pensamentos,
na lógica de um lápis ousando rascunhar,
decodifica o recital do vento.
E no êxodo da folha, a comunidade de poeira
emana semântica da profundidade invisível
que um dia o olhar perceberá.
O lápis suplente da doce voz,
anula a lógica do desencontro
caminhando entre o desenho e a ideia
no caos potencial de um rascunho.
O risco inconsequente do desamor
como rosa dilacerada que descompassa
o genuíno sentido.
Extravasa odor desprovido de conceito.
Por que não seremos imagem?
Talvez temos a sina da rosa,
ser pétala de celebração,
levitar, ornar, colorir o chão
vulgar.
Mas resgatar a memória do sol
num campo intangível de ar.
Dedicado à incorruptível dimensão molecular.