O Teatro Da Inexistência
I
Note como é indiscutível
Que o momento propício está para vir
O dia em que o nada irá existir
Ou meramente deixar de existir.
Como se considera perante a mortalidade?
Um cristão seduzido pelo paraíso
Um agnóstico que nada afirma
Ou um ateu que na morte se firma
Ser o abismo final do tudo e do nada.
Porventura meu espírito se unirá
Á toda vivência no corpo de Deus
Contudo, no dia em que o dia não virá
Tudo o que um dia nasceu
De certo irá se findar.
Cogito em melancolia pela incerteza
Como pode o tudo desaparecer?
Levando consigo até mesmo a luz
Do lívido cenário que configura
Nossa concepção de todo o vazio?
Nem mesmo toda vista que se esmaeceu
Pôde notar o obscuro espaço
De um inexistente palco.
II
As cortinas abriram
Estava tudo ensaiado
Aquela senhora envolta num véu enegrecido
Cintilando a lâmina que regia o teatro.
O futuro foi assassinado injustamente
Pela agonia de um passado que agora jazia
Na mais amarga angústia que fez
O presente puxar o gatilho.
Caindo do vazio as cortinas
Cessando o ultimo ato
De todo o nada que em todo o tempo
Nunca havia existido
Nunca teria nascido
Jamais haveria morrido.
Sempre fora gentilmente
O eterno vácuo dentro
De toda inexistência.
Se houvesse de fato existido
Jamais isso teria acontecido.