SONETO ANESTÉSICO
Eu, filho dos barbitúricos, dos ópios e de todos os torpores:
Eu danço nas libertinas inconsciências ébrias da vida.
Essa angústia que alvorece outros horizontes de dores,
Essas chagas cotidianas cultivando na alma novas feridas.
Eu, bebendo certezas e vomitando nos templos outros embustes
Nesse dédalo pagão, capitalista, genocida, dogmático e marxista.
Gritam-me os martírios e a História das nações sôfregas e egoístas.
Queimam-me os silêncios homicidas desses imensuráveis desajustes.
Almas alucinadas e a sonolência humana injetada pelos olhos do tédio.
Viver é um divórcio de si mesmo; a morte é o berço só dos adultérios?
E embriago-me com demências lúcidas essa vida algoz e sem remédio.
O Mundo é uma barbárie de desatinos históricos e de íntimos mistérios,
As aflições nos asfixiando em cada lar, nas cópulas e nos prédios,
E o gorjeio do Amor e da Felicidade são delirantes e ilusórios cemitérios.