Para onde vão?
Para onde vão as lágrimas
dos que choram por um anjo de quatro patas
abandonado à beira de uma rodovia para morrer?
Para onde vão as lágrimas
dos que choram pelos órfãos nos barcos nos oceanos
fugindo do inferno (para que céu irão?)
Para onde vão as lágrimas
dos que choram diante das labaredas
que matam os ninhos, que matam o ar,
que matam a terra dos homens?
Para onde vão as lágrimas
da mulher que acorda pela manhã
sobre um prato vazio,
pela criança que sorri, sem saber do prato vazio?
Para onde vão as lágrimas
do que guarda na coração eternamente
aquela pétala, aquele lenço,
aquela mão acenando, aquele último sorriso?
Haverá um destino para essas lágrimas?
Onde estarão depositadas?
Com quantos átomos de lágrimas
é feito o rio eterno do mundo dos homens?
Haveremos, um dia, de encontrar um pote de amor
no final desse arco-íris,
filho de todas essas lágrimas?