A grande montanha

Recuso-me a mover sobre o chão,

Parado sobre a terra fico.

Imponência mestra tenho à mão,

Glória e medo a quem tocar-me o pico.

Ante mim há perduração,

No tempo longínquo persisto.

Gerações inteiras vi a passar,

Ao val vi chegar o patriarca.

Com fisgada o vi fulminar,

A frieza de mim os aparta.

O tempo vejo os devorar,

Havendo ou não tido vida farta.

Em minhas cãs levanta-se o sol,

Astros brilham sobre as espaldas.

Na fronte a lua como farol,

De brilhosas estrelas a cauda.

Colar de nuvens como atol,

O cingido resplendor vos saúda.

Sereno semblante alçado ao céu,

Vê-me quando inclinas o rosto.

Impávido sou por trás do véu,

Em excelsos patamares posto.

Solitário meu mausoléu,

Por companhia o silêncio imposto.

Cingido por celeste esplendor

Matinal, sou divinal face.

Banho-me com tão fúlgido alvor,

Para que tal glória não passe.

Moveu-se O Divinal Autor,

A fim que o magnífico emanasse.

Pairam anjos, pássaros em mim,

Magnos seres tenho nos ombros.

Habito eu no da terra o confim,

Em muitos desperto tais assombros.

Sob meu rugir levo-os ao fim,

Mato e silencio-os nos escombros.

Extenso manto de branquidão,

Fria capa serve de veste.

Deus pôs me a terra por grilhão,

Peso a coleira e gelo por peste.

Quero o céu tocar com a mão.

Deus louvo pelo que fizeste.

portanto...

Recuso-me a mover sobre o chão,

Parado sobre a terra fico.

Imponência mestra tenho à mão,

Glória e medo a quem tocar-me o pico.

Ante mim há perduração,

No tempo longínquo persisto.