A Santa Ceia do Poeta
Sincera dor, envio-te a fotografia do meu estado de alma, agora,
como se não me houvesse tempo desigual,
e esse fosse o carnaval do meu espírito,
cheio de vontade de viver, disposto a tudo
o que não for perverso e tecer lágrimas.
Sincera dor, aonde estás é aonde não fico,
nem por algum descuido ou perda do juízo,
porque sou o conserto do confuso, e presto contas
ao mundo, como se guardião dele o fosse. Sou sim!
Sincera dor, que de sincera nada tens,
sou de todas as pessoas, e tu, quase já de ninguém,
por que não vais embora?
Parte, deixa apenas ficar comigo os instantes de felicidade com os amigos
e a luz que puder guiar os caminhos floridos da sabedoria,
para que na reflexão nada mais de ruim nos atormente.
Desinsera dor, vai, por favor, e nunca mais retorne,
ainda que meus olhos chorem de saudade,
já que quase sempre depois de tua presença,
a gente seja recebido pela visita de instantes de felicidade,
nesse dual desconforme que a vida nos impõe alimentarmos.
Mas sem essa estranha criatura, o que seria dos poetas e de seus versos,
sem suas emoções traduzindo tantos santos protestos,
e de seus corações sem amar diferente dos desenhos dos iguais?
Então fica. Senta e me diverte e me dê versos anestesiados,
chame para esta mesa o meu passado, que minha infância me revelará a alegria
e junto a ela e lado a lado, poema e poesia me deixarão, incompreensivelmente, feliz e triste.