Alma Árida

Uma lágrima panteísta escorre dos teus olhos ambiciosos,

É preciso ser forte e corajoso, mas temos convicções e medicações;

O nosso muito sempre nos é pouco, e nosso pouco é o reino do tédio,

Mas a seara é imensa, e os ceifeiros são tão poucos.

Gotas de sangue transpiram de teu silêncio gangrenoso:

Esse silêncio que quer berrar ao mundo todas as nossas vilezas,

Esse silêncio que almeja a um colo, a um ombro fiel, a um amigo;

Esse silêncio infernal que olha para trás, e só há o barulho do vento.

Um tiro grita da pistola que o adolescente encontrou na gaveta do pai:

Prantos gralham ao redor do caixão do irmão que só tinha cinco anos;

Um amor que mata o dia a dia, uma saudade que corrói a memória,

Bem como nas pontas dos dedos e na fumaça do cigarro não fumado.

Uma igreja que reza silenciosamente no centro do município,

A procissão dos excluídos, indoutos e dos fanáticos pelas ruas do pecado:

O pecado acaricia nossa sede, floresce nossos desejos,

Subjuga nossos pés, e nossos sentimentos são nossas jaulas,

E a procissão dos insanos e sábios despenca nas profundezas do coração.

A lágrima, o sangue, a pistola e a igreja acendem fogueiras em nosso ser,

E o amor é sacrificado com o cutelo pagão

De nossas incertezas monoteístas e cadavéricas;

E as nuvens proclamam: “nunca mais”;

Os cadáveres dos corvos fedem em teus falsos olhos legisladores,

E o Espírito de Deus busca uma alma pecadora,

Mas todos já são campeões justificados.

Tenho uma imensa sede de água e de justiça em cada córrego de meu corpo, mas todas as fontes se afogaram na escassez dessa alma árida e maniqueísta do homem.

Senhor, dá-me amigos verdadeiramente pecadores, mas humanos, Pode até ser idiotas, porém que sejam divinamente humanos,

Pois estou farto de ovelhas bipolares e santificadas por si mesmas.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 03/04/2015
Reeditado em 03/04/2015
Código do texto: T5193576
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