Perfidez

Amigos separados por esse ódio tão absintado é triste:

Onde antes havia tulipas de amor entre nossas brincadeiras,

Onde antes risos e olhares ecoavam quando se abraçavam,

Mas os corações se encheram de dolências a cada entardecer,

E dois horizontes se aproaram para caminhos inextricáveis.

A candura dos beijos e das promessas foram queimadas,

Antes eles se compreendiam apenas com o silêncio e com um simples olhar: vínculos rompidos, famílias rompidas, vidas dilaceradas pelo amor,

E cada um se hospedou nos ataúdes aromáticos da solidão,

E cada um não se reconhece mais nem perante as mentiras do espelho.

Senta-te, meu pobre irmão, em teu trono de imperfeições e de perdas,

Contempla as cicatrizes em teus pulsos e em teu coração tão sonhador,

Não temas a morte: a vida é um descalabro em chamas sem nenhum sentido;

Bebe tua bebida, come tuas refeições, suplique tuas orações,

descanse e durma: amanhã todos estaremos na arena da morte,

transpirando fé e medo enquanto tua coroa de espinhos já não sangra.

Vasos com flores, quintal garrido, cães de raça, teu paletó de seda,

Roupas sujas, notícias na televisão, feriados, dias santos e deturpados,

Somos inúteis mártires em um mundo delusório de canalhas famintos,

E a festa continua a todo vapor depois que te enterraram com a tua bandeira.

Amigos pérfidos, casais pérfidos, mundo pérfido,

deidades pérfidas, e ainda assim acreditamos no amor?

Teu cotidiano e teu universo são os teus reais e divinos prostíbulos?

Insanidade é viver como se tudo fosse trivial e fácil de compreender.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 03/04/2015
Reeditado em 03/04/2015
Código do texto: T5193225
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