Perfidez
Amigos separados por esse ódio tão absintado é triste:
Onde antes havia tulipas de amor entre nossas brincadeiras,
Onde antes risos e olhares ecoavam quando se abraçavam,
Mas os corações se encheram de dolências a cada entardecer,
E dois horizontes se aproaram para caminhos inextricáveis.
A candura dos beijos e das promessas foram queimadas,
Antes eles se compreendiam apenas com o silêncio e com um simples olhar: vínculos rompidos, famílias rompidas, vidas dilaceradas pelo amor,
E cada um se hospedou nos ataúdes aromáticos da solidão,
E cada um não se reconhece mais nem perante as mentiras do espelho.
Senta-te, meu pobre irmão, em teu trono de imperfeições e de perdas,
Contempla as cicatrizes em teus pulsos e em teu coração tão sonhador,
Não temas a morte: a vida é um descalabro em chamas sem nenhum sentido;
Bebe tua bebida, come tuas refeições, suplique tuas orações,
descanse e durma: amanhã todos estaremos na arena da morte,
transpirando fé e medo enquanto tua coroa de espinhos já não sangra.
Vasos com flores, quintal garrido, cães de raça, teu paletó de seda,
Roupas sujas, notícias na televisão, feriados, dias santos e deturpados,
Somos inúteis mártires em um mundo delusório de canalhas famintos,
E a festa continua a todo vapor depois que te enterraram com a tua bandeira.
Amigos pérfidos, casais pérfidos, mundo pérfido,
deidades pérfidas, e ainda assim acreditamos no amor?
Teu cotidiano e teu universo são os teus reais e divinos prostíbulos?
Insanidade é viver como se tudo fosse trivial e fácil de compreender.