O Som do Silêncio
O riso branco e macio daquela criança da mãe entre os braços
É como a lágrima de Deus sentada nas costas dos homens tristes,
É como um afago sem carícias, e o coração nas profundezas do cansaço
Sonha sem sonhar os delírios do amor que teus outonos e vós não vistes.
Tantas palavras, frases, discursos, o som do silêncio é minha divindade,
O som do silêncio dos sentimentos quebrados ainda respira nos quartos,
Beijos toscos, brigas vorazes, mágoas nos olhos, viver é uma falsidade
Que fingimos não ser, mas os sorrisos são na parede antigos retratos.
O abraço fiel dos que se amam é um palhaço psicótico ainda maquiado,
É um túmulo onde semeamos os corpos de nossos delírios e sonhos,
É o vil ósculo a vender a alma por estabilidades e desejos conjurados,
E a lágrima ri de si por entre as pedras e os céus tão entabulados;
A alma, despida de nudez, exora com regozijos pelo som do silêncio:
Esmague cada barulho, esquife, emoções, e som deste existir deturpado.