O LAMBER DAS FERIDAS
A noite veio lamber as feridas
Causadas pela luz clara e cruel
Molhou e beijou todas as crostas
Chamou-as de queridas sem fel
E encerrou-as a sós como ostras
Dentro de uma sala de partidas
Sem destino e sem gosto de mel
A dor foi hoje mergulhada no rio
E os restos flutuaram sem navio
Gotas de sangue em água escura
Sem cinzas e lixos de amargura
Até ao raiar do dia novo e claro
Que aguarda as próximas noites
Como pedaços de um amor raro