Expressão
Meu filho espreme a teta da mãe seca
Espremo a pedra pra sair leite
Espremo o vidro da última garrafa
Pra matar minha sede ardente que me embriaga
E me amolece e me embrutece e me espreme a vista
Então não enxergo, eu amargo
A opressão
Espremo o chão
Com meu corpo mole
Encouraçado pela minha alma dura
Coração vazio e cabeça oca
Ninguém atura meu exalado odor
Oprimido embriagado
Nem mesmo o cão
O opressor oprime
O oprimido deprime
Minha filha chega tarde
Há muito não mais apertada
A mãe reprime num bradado timbre de leão
E percebe a blusa que já espreme
Uma barriga mais saliente
A menina se redime jurando aborto
Eu digo não
Eu digo: não meu Deus!
Eu não mereço
Não sei o que faço
Mas nada peço
Além de força, além de fibra
Eu me prometo
Não ser vilão
O oprimido expressa
Sua impressão do mundo
O novo oprimido
Expressa e imprime
Sua pressão ao opressor
E rechaça a desgraça
Dissipa qualquer fumaça que lhe impeça
Aspirar o ar vital e levitar
Do chão
Espreme as mãos
Espremido coração
Bombeia sangue novo
Abafa e seca o choro
Encerra a oração e agradece
Inspiração
Inspiração
O oprimido imprime
Sua expressão no mundo