Em branco

O que escreverei? Sobre por de sol?

O verde dos campos? Os desencantos?

A saudade da infância? A esperança?

Estar aqui e não ser?

A fome, a dor, os desesperos?

Eu sou só gente desse mundo,

um pensar vagabundo

e ao mesmo tempo profundo

com um coração cheio de erros.

Não, nada escreverei

ao lado das rosas.

A minha face vem dos jardins antigos,

mas agora eu podo as minhas rosas,

com suas pétalas desastrosas

e seus espinhos inimigos.

Agora a minha vida se escreve

em cada célula morta

da minha pele,

como um vaso sob céu aberto,

descascado,

mas que será restaurado

antes do amanhecer.

Poderei então voltar

e ao lado das rosas, por fim,

me escrever.

(*) reedição, 2008