<IA>Cruz, dores do mundo

Cruz, dores do mundo

Quando, no mundo, ainda era vida

quis falar do amor, mas me faltaram as palavras.

Existia, em mim, a incompreensão...

E, mesmo que houvesse fala, havia incapacidade

de expressar o que sentia...

Em todo o meu ser pulsavam emoções,

um misto de amor, de vazio e resignação.

Contudo, estava à beira dum abismo

exposto às perversas sanções

por não queixar-me de nada...

Deuses ensandecidos puseram-me à prova,

lançaram sua fúria sobre mim,

abalaram a minha alma

e transformaram a minha vida...

Em minhas cercanias tudo ensurdeceu

(Ninguém pôde ouvir meu grito abafadiço;

Foi como um vulcão às avessas,

jorrando de fora pra dentro...)

E esses magmas me abriram fissuras,

me fundaram furnas.

(Castigo que me martirizou

e que me tornou numa frágil rocha...)

E hoje, ainda que falem do amor,

já não sinto o inquietante vazio;

Pelo amor, sinto o peso em meus ombros

por todas as dores do mundo.

Beto Acioli

27/09/2014