Ser
Sê um silêncio só:
escreve-te no impulso do efêmero
ave aberta à inutilidade do voo,
flor entregue à misericórdia da luz,
dia nublado que em ti deténs
a vastidão de uma angústia.
Sê o silêncio só:
piano ausente da melodia
curtindo a dolência da solidão
entregue à expectativa de dedos
que nunca virão, na carícia melodiosa.
Sê esse retrato inamovível
para te cristalizar o essencial
e não outra coisa ao acaso.
Sê este silêncio cruel
(ou outra lágrima maior).