O vale do fim do mundo
O vale verde do fim do mundo
fica no sopro do instante.
Nada há que nele não brote.
Que também ao cair da noite
não mova o pensamento
de quem se angustia
com o lenço vermelho dos tempos.
Não há um rosto
que não sobreviva
ao pó, aos ventos e às correntes.
Cantar sobre ele pode até trazer melancolia,
mas revisitá-lo a cada dia é arte.
O vale verde do fim do mundo
tem seu lar nos presentes e nos ausentes.
Na alma das plantas, dos animais,
na lei das sementes.
Sombreiam seus caminhos,
enormes nuvens retorcidas.
Quando por elas entra o sol,
caem em forma de inspiração
ou de águas desconhecidas.
Apenas os olhos do peregrino
quando pelo vale passam,
todos os sentidos já sabem
que para seguir adiante
palavra nenhuma vale.
Porque palavras o tempo leva.
Há que se ter um espelho
onde o ego se despreze.
Há que se ter um cajado
gerado em tempos de primavera.
E muitos, muitos olhos alados,
para que as asas não errem
o caminho desvelado
onde Deus apoiou o Seu pé
de leve.