Sentir a Vida
Sentir a vida a escapar incomensurável,
Vê-la desaparecer aos poucos bramindo,
Ora devagarinho como o Sol a pôr-se,
Ora mais apressadamente como o vento irado,
Senti-la sair de mim em espasmos de espanto,
Ao sabor do bater dum coração alado,
Esvaindo-se no meu sangue derramado,
De vermelho sublinhado e impuro torpor,
Imiscuo-me na ardência da sua volatilidade,
Ritmada e consequentemente inabalável,
No seu estreito caminho para a perdição,
A vida que ousou viver em mim está morta,
Um nado morto abstruso que me habita,
Deambula nua pelo meu corpo prostrado,
Vinca as rugas na minha face trancada,
Augura a minha degenerescência total,
A falência do dueto Corpo-Alma inacabado,
A vida delirante que me assiste o pensar frustrado,
Sinto-a a despedaçar-se no muro que me envolve,
Aconchega-me misericordiosa o garrote ao pescoço,
Tão gentilmente e meiga ela me aconchega no fim,
Quando dá o supremo acto fatídico por terminado.
Lisboa, 18-8-2013