Sentir a Vida

Sentir a vida a escapar incomensurável,

Vê-la desaparecer aos poucos bramindo,

Ora devagarinho como o Sol a pôr-se,

Ora mais apressadamente como o vento irado,

Senti-la sair de mim em espasmos de espanto,

Ao sabor do bater dum coração alado,

Esvaindo-se no meu sangue derramado,

De vermelho sublinhado e impuro torpor,

Imiscuo-me na ardência da sua volatilidade,

Ritmada e consequentemente inabalável,

No seu estreito caminho para a perdição,

A vida que ousou viver em mim está morta,

Um nado morto abstruso que me habita,

Deambula nua pelo meu corpo prostrado,

Vinca as rugas na minha face trancada,

Augura a minha degenerescência total,

A falência do dueto Corpo-Alma inacabado,

A vida delirante que me assiste o pensar frustrado,

Sinto-a a despedaçar-se no muro que me envolve,

Aconchega-me misericordiosa o garrote ao pescoço,

Tão gentilmente e meiga ela me aconchega no fim,

Quando dá o supremo acto fatídico por terminado.

Lisboa, 18-8-2013

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 21/07/2014
Código do texto: T4890676
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