CHUVA DE LUZ

Corram, percorram, transbordem,

Contornem os espaços vazios,

Vazios de ódio e amor,

De volúpia e esperança vã!

Corram buscando o poço,

Procurado um esboço sem cor

Em um quadro ornado por vácuo!

Percorram a circunferência

Do tédio em linha esguia,

Do vago tablado sem alegria

Que preenche nosso crânio fecundo.

Percorram as flores largadas

Nas bancas pela chuva molhadas

E que ficam por isso inchadas.

Transborde vosso ócio em mim

Para tornar-me mais pensativo,

Quem sabe um pouco assinalado

Ao comparando com o antigo Virgílio!

Transborde o néctar sagrado

Que nos torna diferentes, elevados

Perante o povo que passa!