A Longa Caminhada
Unir-me-ei a todos vós um dia,
A brisa trouxe a pestilência,
Fétida e nauseabunda,
Aos meus sonhos de menino,
Arruinando a minha inocência,
Que trucidada nas trevas jaz.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
O tempo reclama em voz alta,
Em gritos lancinantes de dor,
Pela carne outrora emprestada,
E doravante mil vezes reclamada,
Os seus uivos ecoam trespassantes.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
Lacaios do destino atroz,
Proscritos à minha simpatia,
Na última e longa caminhada,
A grande marcha da liberdade,
A caminho do abismo inviável.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
Na podridão dos corpos exauridos,
Acompanhando vossas mentes vis,
Perniciosas almas esquecidas,
Perdidas errantes no vácuo denso,
Hoje e para todo o sempre.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
Tal como lampejos de luz saboreamos,
Ao longo dos laivos de consciência,
Verdadeiras encarnações do Cosmos,
Que se reconheceram ao espelho,
Nas nossas próprias imagens mortas,
No reflexo incoerente das nossas vidas.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
A beleza extrema das percepções sentidas,
Sensorialmente embriagadas de esplendor,
Alquimistas da moral etilizada e petulante,
De ética bacoca e presunçosa,
Enforcados em mimetismos sem fim,
Expiramos cativos em tédios virulentos.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
Corpos desalmados correrão nus,
Repetidos e iguais todos juntos,
Largaremos os grilhões no caminho,
Tombaremos levemente nas valas,
Caídos de espíritos amortalhados,
Virão todos ininterruptamente ali finar.
Unir-me-ei a todos vós um dia,
Resignados sem esperança no destino,
Na linha de montagem inimaginável,
Onde os sonhos se extinguirão,
Preteridos ao esquecimento eterno,
Somos todos peças prescindíveis,
Oleamos a engrenagem da máquina.
A infernal máquina Universal,
Que nasceu infinitesimal,
Empolou exponencialmente,
E um dia implodirá em escuridão,
Em treva total e absoluta,
Anulando-se no zero,
Infinitamente vazio.
Lx, 10-6-2012